Quando eu escolhi ser Ortodontista eu já sabia que estaria sempre em contato com jovens e adolescentes. Pelo menos, esse seria o meu maior público. E é claro que o dentista acaba estabelecendo uma relação afetiva com seus pacientes, afinal o tratamento acaba sendo longo e alguns pacientes tem medo. Isto dá ao profissional muitas vezes um lugar privilegiado de confiança dos pacientes. Um desses dias, uma situação mexeu com as minhas lembranças.

Eu tenho duas pacientes que são tão amigas ao ponto de pedir que a consulta delas seja marcada no mesmo horário. Enquanto uma está em tratamento a outra fica sentada do lado conversando . Sabe como é adolescente. Tudo é uma festa!

Ao mesmo tempo em que estavam brincando começaram a xingar, uma a outra.

Eu acabei dando uma “enquadrada” nelas e ameacei não marcar as duas mais no mesmo horário.

Qual foi a reação delas?

Mais que depressa começaram a fazer coraçõezinhos com as mãos e dizer “Eu te amo”, uma para a outra, rs

Todo mundo acabou caindo na risada, lógico.

Quando eu já estava em casa, eu me lembrei das minhas queridas pacientes e logo me peguei pensando na leveza juvenil e como encaramos a vida com o riso mais solto na adolescência. Na maior parte das vezes, não é?!

Veio à minha memória a minha adolescência, as férias com os primos, as tardes com as amigas, tudo era festa. Com isso comecei a me perguntar quando foi que eu perdi a leveza para encarar a vida e quais os motivos desta mudança.

É claro que a vida adulta traz enormes responsabilidades. Só esta palavra já tem um peso incrível. Mas será que não estamos levando tudo muito a sério? Não estamos NOS levando muito a sério, sendo muito intransigentes conosco.

Ser flexível não significa ter falta de compromisso diante da vida, mas é conseguir ver um problema de ângulos diferentes. Se colocar em outra posição para poder refletir melhor, sem o peso de ter de acertar sempre.

E qual a diferença entre adultos mais tranquilos daqueles que não conseguem lidar bem com os desafios impostos pela vida?

Por que algumas pessoas conseguem passar pelos problemas melhor do que as outras?

Existe alguma atitude a tomar com nossos filhos para evitar criar adultos ansiosos e cheios de insegurança ou tensão?

É incrível, mas o transtorno de ansiedade é uma das doenças psiquiátricas mais frequentes em crianças e adolescentes. Cerca de 10% delas sofrem de algum tipo

de distúrbio.

Das crianças ansiosas , mais de 50% poderão apresentar um episódio depressivo decorrente da ansiedade.

Ter pais com Transtorno de Ansiedade ou Depressão é um fator relevante, como na maior parte das doenças psiquiátricas. Mas isso não deve ser

motivo para alarme e sim para observar o comportamento da criança para que ela possa se desenvolver de forma saudável.

Alguns comportamentos podem ajudar você na educação do seu filho:

# Cuidado 1 –  Os pais não devem desvalorizar os sentimentos das crianças

 

É normal a criança ter ansiedade ou medo em determinadas situações. Cabe aos pais ajudar a seus filhos a compreender que ter medo e ter aquele friozinho na barriga faz parte da vida.

O adulto, na ânsia de fazer com que a criança não fique triste ou sinta alguma tensão (ansiedade) acaba reforçando a fala de que a criança não deve se sentir assim, dando a entender que caso a criança esqueça o sentimento “aparentemente” sem causa, ele irá desaparecer.  Mas não é assim que acontece. A ansiedade ou medo é considerado normal até certo grau, quando são desproporcionais aos estímulos ou afetem a qualidade de vida da criança são considerados patológicos assim como nos adultos, mas diferentemente dos adultos, as crianças não sabem quando esses medos ou sensações são exagerados, especialmente as crianças menores.

Cabe aos adultos observar as crianças e verificar suas sensações e medo. Não é típico de uma criança ser muito preocupada com o futuro, apresentar dores de cabeça frequentes, diarreia, palpitação, agressividade ou dificuldade de concentração.

Se a criança estiver sentindo alguma alteração que parecer estar associada a alguma situação especifica pode ser que esteja sofrendo de transtorno de ansiedade e deve ser procurado avaliação médica.

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# Cuidado 2 – Dizer sempre que tudo vai ficar bem

Ao querer poupar as crianças das situações ruins, os adultos passam a “vender” falsas expectativas.  Não há nenhum problema em tentar tranquilizar a criança, desde que isso não seja uma regra, para que inconscientemente a criança não crie uma dependência de ter sempre alguém por perto para tranquilizá-la dos medos ou escolhas, entendendo que ela própria não tem capacidade para fazê-lo.

# Cuidado 3 –  Tentar proteger a criança o tempo todo de perigos e aborrecimentos

É normal e correto proteger as crianças do perigo, mas faz parte do desenvolvimento delas passar por alguns riscos. Vamos chamar de “riscos calculados”.  Caso uma pessoa em formação seja poupada de tudo, o tempo todo,  ela acabará deixando de tomar contato com a realidade do mundo. A criança pode desenvolver diferentes tipos de personalidade: aquela mais tímida, que entende que o mundo é um lugar perigoso e sombrio que necessita de alguém por perto para livrá-la sempre, ou aquele que não vê obstáculos à sua frente e não vê o outro diante de si. O crescimento de um ser humano saudável se faz com vitórias e frustrações.

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# Cuidado 4 – Entender que seu exemplo vale mais do que as palavras

As crianças aprendem muito mais pelo exemplo do que por palavras, portanto expressar sua própria ansiedade em relação a algo e como você lida com as situações vão fazer seu filho seguir seus passos mais adiante.

# Cuidado 5 –  Entender que a criança não é um adulto em miniatura

As crianças estão cada vez mais precoces e com o desenvolvimento mais surpreendente, mas não se esqueça de que elas são crianças.

Observar pequenos cuidados no dia a dia ajudam a desenvolver uma criança saudável a se tornar um adulto melhor, menos ansioso e com mais qualidade de vida.

Precisamos ser mais leves na vida e não só na balança, não é? Rs.

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Um abraço carinhoso, um beijo  e até a próxima.

Rose